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10 de Maio de 2024
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    Especialistas discutem sobre prováveis casos de suicídio em animais

    Redação ANDA – Agência de Notícias de Direitos Animais

    Ric O’Barry com Kathy. Foto: The Dolphin Project

    Há décadas atrás, Ric O’Barry, fundador do Dolphin Project e catalisador central do documentário “The Cove”, treinou uma fêmea de golfinho chamada Kathy.

    Kathy era um dos cetáceos retratados no popular programa televisivo “Flipper”, nos anos 60. Durante a duração do programa, O’Barry formou uma estreita conexão com Kathy. Ele conviveu com ela e outros animais que eram apresentados no programa por sete anos, disse O’Barry em uma entrevista à PBS. “Eu vivi com eles 24 horas por dia, 7 dias por semana, e nós formamos laços…Eu estava muito próximo deles”. Por esse motivo, o que Kathy fez diante de O’Barry anos depois viria a mudar a trajetória de sua vida, de treinador a ativista para sempre. As informações são do The Dodo.

    “Golfinhos não respiram automaticamente como nós”, disse O’Barry ao The Dodo. “Toda respiração é um esforço consciente. O que significa que eles podem colocar um fim à sua vida a qualquer momento ao simplesmente não realizar a próxima respiração”.

    Ric O’Barry com Kathy. Foto: The Dolphin Project

    “Eu recebi uma ligação do Seaquarium de Miami, onde Kathy vivia desde o término das gravações do programa, e me disseram que ela não estava bem”, contou O’Barry ao PBS.

    O’Barry foi checar Kathy em seu tanque e viu que ela estava coberta de bolhas. “Ela estava escura, com queimaduras, pois havia passado a maior parte do tempo na superfície da água”, continuou ele. “Sua barbatana estava dobrada. A natureza dizia que havia algo de errado”.

    E então Kathy nadou na direção dele. “Ela me olhou nos olhos, respirou uma quantidade de ar e simplesmente o prendeu. Apenas o prendeu”, disse ele ao PBS. “Então eu a agarrei…e ela afundou no tanque. Eu pulei na água e a puxei para a superfície”.

    Nos braços dele, conta O’Barry’s, Kathy cometeu suicídio.

    Desde então, ele tem visto golfinhos se comportando como Kathy repetidamente – golfinhos cometem suicídio com frequência no controverso massacre anual de golfinhos em Taiji, no Japão, o que foi relatado no documentário “The Cove”, de acordo com O’Barry. “Eu venho testemunhando esta mesma cena pelos últimos treze anos – diversas vezes por ano”, declarou ele ao The Dodo.

    Golfinho morrendo em Taiji, no Japão. Foto: The Dolphin Project

    “Mais recentemente, durante uma captura no começo de Setembro, uma outra fêmea de golfinho arrebentou duas redes de barreira, nadou e parou diante dos meus pés. Me olhando diretamente nos olhos, debateu-se nas rochas enquanto prendia a respiração, e morreu”, relatou O’Barry. “Os caçadores pegaram-na nas pedras e ela afundou, sem vida”.

    Mas, segundo alguns pesquisadores, não são apenas os golfinhos que cometem suicídio.

    Urso cativo em fazenda de extração de bile. Foto: Animals Asia

    Urso cativo em fazenda de extração de bile. Foto: Animals Asia

    “Em 2012, a mídia chinesa publicou o caso de uma ursa cativa em uma fazenda de produção de bile que matou o seu filho e em seguida se matou após tê-lo ouvido gritar de dor”, escreveu Marc Bekoff, ex-professor de Ecologia e de Biologia Evolucionista da Universidade do Colorado, em Boulder, no jornal Psychology Today.

    Segundo relatos, a mãe urso quebrou as grades de sua jaula ao ouvir o choro de seu filhote, e os outros ursos que estavam confinados com ela fugiram em pânico. Então ela apressou-se até onde estava o filhote e imediatamente o sufocou”, disse Bekoff.

    Em seguida, a mãe correu com a cabeça em direção a um muro e se matou.

    Ainda com relação a esse mesmo assunto, no ano passado a ANDA publicou uma reportagem sobre ursos que faziam greve de fome em fazendas de extração de bile.

    A história dos lêmingues

    O suicídio animal é raramente discutido sem a menção de uma história referente aos lêmingues, pequenos roedores encontrados nas tundras da América do Norte e do norte da Europa.

    Lêmingue. Foto: Shutterstock

    Após uma explosão de sua população de tempos em tempos, “lêmingues em massa foram vistos viajando de seu habitat nas montanhas até a costa”, escreveram Edmund Ramsen e Duncan Wilson em um recente estudo sobre suicídio animal. Sem se importarem com o mar, “eles nadam até se afogarem, inundando as praias com os seus corpos. Quando estão marchando, eles parecem não se abalar por nenhum obstáculo, como se estivessem impelidos ‘por alguma força estranha’ “.

    O comportamento dos lêmingues tem atraído o interesse dos cientistas desde que turistas notaram o caso pela primeira vez, no século XIX. No decorrer do tempo, todos os tipos de razões para o seu comportamento extraordinário foram aventados – de estresse a controle populacional. Inclusive, esses hábitos apocalípticos foram até mesmo abordados em um livro de ficção científica chamado “The Marching Morons”.

    Ilustração do suicídio dos lêmingues. Foto: Shutterstock

    Em última análise, o consenso geral concluiu que os lêmingues não cometem suicídio. Mas o balanço entre a certeza da experiência de O’Barry com Kathy e a incerteza do comportamento dos lêmingues mostra o quão questionável essa diferença de opinião pode ser.

    Suicídio segundo a ciência

    O Centro de Controle de Doenças (Center for Disease Control – CDC) define que há suicídio “quando as pessoas praticam violência consigo mesmas na intenção de colocar um fim às suas vidas, e elas morrem como resultado de suas ações”.

    Apesar de ser conhecido o fato dos animais experienciarem doenças mentais, as pesquisas ainda não disseram afirmativamente que os animais cometem suicídio, e nem admitiram que uma definição antropocêntrica como a do CDC poderia se aplicar ao reino animal. No entanto, tem havido algumas explorações científicas sobre esse tópico.

    O estudo recente de Ramsen e Wilson sobre suicídio animal referenciado acima quanto ao potencial suicídio dos lêmingues expõe o ponto central de todo esse debate: se os animais que cometem suicídio são capazes de saber – ou antecipar – sua morte iminente. Ainda mais especificamente, “poderiam os animais encontrarem um método para ‘realizá-lo?’ “.

    No estudo, Ramsen e Wilson se referem ao sociólogo francês Emile Durkheim (que escreveu um ensaio chamado “Suicide”, em 1897). Durkheim analisou se cães deixavam de se alimentar até a morte após o falecimento de seus tutores e, se o faziam, poderia ser isso considerado suicídio? A própria análise de Durkheim levou-o a crer que não. “É a tristeza à qual eles se lançam que causa automaticamente a falta de apetite; a morte é o resultado, mas sem ter sido prevista”, disse ele.

    Em essência, segundo a reportagem, mesmo que o suicídio dos animais continue sem comprovação, esse é um debate válido, pois pode perturbar a noção de que os humanos são superiores aos animais quando se trata de cognição, percepção, antecipação e o desejo de acabar com as suas próprias vidas.

    Talvez isso não tenha importância

    Bernard Rollin, um estudioso eminente em bem-estar animal, ética e questões de direito, afirma não acreditar que os animais cometam suicídio.

    “Você pode certamente olhar para a história dos lêmingues e talvez para outros casos similares e dizer que não correspondem à definição de suicídio”, disse Rollin ao The Dodo. “Porque não se trata de uma tentativa pensada de acabar com a própria vida”.

    Rollin diz que a sua opinião se baseia na improbabilidade dos animais entenderem o conceito de futuro. “Eu escrevi artigos sobre morte induzida”, disse ele. “Com seres humanos, a morte não só interrompe as suas experiências atuais, como também a cognição humana é muito futuramente direcionada. Você quer ver os seus filhos se graduarem na faculdade, ou você deseja visitar a Irlanda. Para isso, você deve ter uma habilidade linguística para transcender o presente”.

    Agora, de acordo com Rollin, algumas pessoas podem pensar que ele está negando a consciência dos animais com a sua teoria, mas ele nega que essa seja a verdade. “Eu sou uma das pessoas que argumentaram primeiro a favor da consciência dos animais”, disse ele. “Além disso, você não faz nenhum favor ao atribuir uma consciência super sofisticada aos animais”.

    E o que se pode dizer a respeito de histórias de cães domésticos que deixam os seus lares e famílias para morrerem distantes deles? Rollin sustenta que os animais podem estar plenos de dor ou angústia, mas que ele não acha que os cães sabem que estão para falecer. “Então, se não há meios de um animal possivelmente saber que tudo está para ser interrompido”, diz ele, “como poderia ele escolher se suicidar?”.

    Por outro lado, há quem olhe para a questão por um ângulo diferente, como Stacy Lopresti-Goodman, professora de Psicologia da Universidade de Marymount, que não considera tão absurda a noção de que os animais possam ficar severamente deprimidos a ponto de perderem o seu desejo de continuar vivendo.

    Lopresti-Goodman conduz uma pesquisa com chimpanzés que vivem atualmente em santuários, a fim de entender o quanto o confinamento, o isolamento social, a separação maternal e o abuso físico em situações anteriores (como laboratórios) afetaram o seu bem-estar psicológico.

    Poco, um chimpanzé que vive no Sweetwaters Chimpanzee Sanctuary no Quênia, era mantido em uma gaiola por cerca de uma década antes de ter sido resgatado. Ele agora sofre de distúrbio pós- traumático. Foto: Lopresti-Goodman

    “Se pensarmos em observações de Jane Goodall sobre chimpanzés do Gombe Stream Research Center na Tanzânia, um pequeno chimpanzé chamado Flint tornou-se socialmente isolado, parou de se alimentar e demonstrou sinais de depressão após a perda de sua mãe Flo. Muito pouco tempo depois, ele faleceu”, conta ela.

    “Eu não estou afirmando que ele cometeu suicídio”, diz ela, “mas se Flint fosse um humano que tivesse ficado tão severamente deprimido diante da perda de um membro amado da família a ponto de parar de comer e subsequentemente morrer, isso seria considerado um exemplo de alguém que intencionalmente deixou de se alimentar até a morte, o que atende à definição de suicídio”.

    Em sua própria pesquisa, Lopresti-Goodman relata ter testemunhado feridas graves e auto infligidas por animais, incluindo dedos mordidos, esfregações profundas nas próprias peles, auto mutilações ou o ato de chocarem as suas cabeças contra o chão. “Novamente, se nós presenciarmos humanos se engajando nesse mesmo comportamento autodestrutivo, nós podemos certamente nos preocupar e inferir que eles estejam tendo pensamentos suicidas”, explica ela.

    Segundo a pesquisadora, tudo isso leva a concluir que a Ciência nem sempre está disposta a aceitar que emoções humanas e seus modos de pensar também existam em outras espécies.

    Mas a evolução e o senso comum, diz ela, demonstram o contrário.

    “Nós sabemos com certeza que alguns animais sentem profunda tristeza e pesar, assim como alegria”, diz Barbara J. King, professora de Antropologia e autora do livro “How Animals Grieve”, ao The Dodo.

    “Alguns relatórios intrigantes”, conta King, “levantam questões sobre um ponto decisivo entre o estresse que os animais sentem e os possíveis atos de auto agressão ou suicídio. É verdade, no entanto, que a questão da intenção é muito complicada para se determinar um desejo consciente pela morte”.

    Independente disso, King diz não estar certa a respeito do quão importante é saber se os animais matam a si mesmos ou não. “É honestamente menos importante saber se os animais cometem ou não o suicídio do que saber que, quando nós humanos os prejudicamos em contextos como matadouros, circos e zoológicos (entre outros), nós causamos a eles terrível sofrimento, assim como quando destruímos seus habitats selvagens”.

    Acima de tudo e antes de mais nada, afirma King, “nós precisamos trabalhar muito mais para pararmos com o sofrimento dos animais”.

    Especialmente, acrescenta ela, uma vez que somos a causa da maior parte de toda essa dor.

    *É permitida a reprodução total ou parcial desta matéria desde que citada a fonte ANDA – Agência de Notícias de Direitos Animais com o link. Assim você valoriza o trabalho da equipe ANDA formada por jornalistas e profissionais de diversas áreas engajados na causa animal e contribui para um mundo melhor e mais justo.

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