Comércio de marfim termina sem solução em Convenção Internacional
Por Natalia Cesana (da Redação)
A Convenção Anual sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e Flora Ameaçadas, promovida pela CITES, organização que justamente faz o controle deste tipo de comércio, terminou nesta quinta-feira, 14 de março, em Bangkok, após quase duas semanas de debates. Um dos pontos esperados era alguma medida que sinalizasse o fim do comércio de marfim.
Por quatro décadas, a CITES tem sido juíza da lei internacional relativa à vida silvestre. Mas devido aos atuais crimes cometidos contra a fauna, a entidade passa por um momento difícil. Os níveis de caça ilegal estão crescendo rapidamente, a procura por marfim e chifres de rinoceronte explodiu em vários países da Ásia, onde pessoas com dinheiro ostentam velhos símbolos de riqueza e os utilizam na medicina tradicional.
Entretanto, o título de um comunicado à imprensa causou decepção a alguns grupos que defendiam a causa, pois uma grande oportunidade foi perdida. “A CITES não tem solução para o comércio de marfim: indulgência e retórica estão matando os elefantes ao longo do mundo”, era o título divulgado.
Os grupos em defesa dos animais acusam a China, “o país mais responsável pela crise provocada pelo crescente comércio de marfim”, de se negar em admitir que eles são parte principal do problema.
A conferência aconteceu em meio a este contexto, do aumento da caça: 25 mil elefantes e quase 700 rinocerontes foram mortos por caçadores no ano passado de acordo com a WWF.
Alguns ativistas disseram que essa era a “última oportunidade” para salvar os animais dos insustentáveis níveis de destruição.
No dia da abertura, o príncipie William, por meio de um vídeo, se dirigiu aos delegados ali presentes e pediu que eles fizessem a diferença, e descreveu os números das caçadas como “alarmantes”.
A primeira-ministra da Tailândia, também em seu discurso de abertura, prometeu tomar medidas para acabar com o comércio de marfim no país.
Terminar com o mercado interno tailandês bloquearia a brecha que permite que o marfim africano seja trazido ilegalmente para o país. Por isso as esperanças eram elevadas.
No fim, não houve um cronograma claro para que a proibição entre em vigor na Tailândia e os debates sobre as sanções contra os países não chegaram a lugar nenhum.
No Vietnã, onde pude presenciar pessoalmente o abuso generalizado das leis que proíbem o comércio de chifres de rinoceronte, o governo foi alertado de que precisava limpar seus atos. Um gesto muito brando, segundo os ativistas.
Tubarões têm sido objeto de proteção extra. Os últimos dados sugerem que, a cada ano, 100 milhões são mortos devido às barbatanas. A sopa de barbatana de tubarão, aliás, é uma refeição de luxo para a maioria dos chineses e é tradicionalmente servida em casamentos ou em reuniões de negócios para impressionar os convidados.
Entretanto, tais proibições não são suficientes para proibir completamente o comércio de barbatana de tubarão. Pretende-se introduzir um sistema de autorização, que visa à proteção das cinco espécies, mas as novas regras não entram em vigor há 18 meses.
O problema para a CITES é o mesmo enfrentando por grandes organizações internacionais. Quando você coloca embaixo do mesmo guarda-chuva muitos países diferentes - neste caso, 178 -, você tem culturas, necessidades e agendas conflitantes. Ter compromisso é inevitável.
Outros dirão que ao menos a CITES existe, que ao menos os países possuem um fórum para onde eles podem enviar os delegados e, reunidos, discutir as questões e os problemas apresentados.
O problema é que levará dois ou três anos para que a CITES se reúna de novo. Pelas estimativas, baseadas nos dados de hoje, mais de 75 mil elefantes e 2.100 rinocerontes terão sido mortos por caçadores até lá.
Veja a matéria da ITV News:
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